Nunca vi um presépio retratando a matança promovida por Herodes. Deveria existir. Mas não existe por um motivo simples: somos terrivelmente parecidos com o tirano perverso e isto nos deixa perplexos demais.
Gostamos de Maria, de José, dos astrônomos, dos pastores e do coral de anjos. Acontece que eu nunca recebi a visita de um anjo, como Maria. Nunca fui desafiado a suportar uma vergonha tão grande, a vergonha de ver sua esposa grávida antes do casamento naquela época, como José. Nunca vi um coral de anjos cantando no céu, como os pastores. Nunca vi uma estrela mais brilhante que as outras apontando o caminho para onde seguir. Gosto destes personagens porque nunca serei como eles. Eles fizeram o que eu não poderia fazer.
Mas pense em Herodes. Ele fez duas coisas que fazemos todos os dias.
Ao perceber que um suposto Rei dos Judeus havia nascido, Herodes se sentiu ameaçado. Seu reinado estava ameaçado. Como ele perderia o poder e a sensação boa que o poder traz? Como ele poderia perder a liberdade de tomar suas próprias decisões, mandar ir e voltar, construir e derrubar? Jesus era uma ameaça a seu poder e liberdade, Herodes não suportou isso e pensou em anular Jesus. Eu também, de vez em quando, me descubro tentando anular Jesus em minha vida.
A segunda coisa que ele fez foi ainda mais terrível. Ao ver que Jesus não estava ao seu alcance, resolveu matar os que eram semelhantes a Ele. E quem são os semelhantes a Jesus nos dias de hoje? São os sedentos, os famintos, os moradores de rua, os presidiários, os que estão com a família em demolição, os desenganados pelos médicos. Eu finjo que não é comigo e sigo meu caminho, como o fariseu que vê o estropiado à beira do caminho, deixando-o aos cuidados de algum bom samaritano.
Olhar para Herodes me ensina que preciso deixar Jesus reinar em minha vida e preciso amar os que são parecidos com Ele. Enquanto fico contemplando o céu em busca de anjos e estrelas, o mundo aqui embaixo clama por pessoas que enxerguem as coisas simples.
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