Depressão Também Afeta os Santos


Uma das pessoas mais influentes do Cristianismo - principalmente entre os católicos, mas com um pensamento que abrange o protestantismo - foi São Francisco de Assis. Poucas pessoas sabem, mas São Francisco passou por depressão. Dois fatos de sua adolescência fizeram com que a culpa sobreviesse sobre este homem de forma a adoecê-lo.

O primeiro fato, alheio à sua vontade, foi quando se alistou para participar das Cruzadas como cavaleiro, mas por não possuir boa saúde foi considerado inapto quando já havia saído de sua cidade e tomado a bênção do pároco e dos pais. Voltou arrasado e humilhado. O segundo fato foi quando quis reconstruir a capela de São Damião, mas o fez com dinheiro do seu pai: vendeu os tecidos da loja do seu pai e tomou o dinheiro para a reforma da capela. Acusado de roubo, o caso foi levado ao bispo que o mandou restituir o dinheiro. Francisco Bernardone (ainda não era santo, como podemos ver) devolveu o dinheiro, tirou as roupas frente ao tribunal e saiu somente de roupa de baixo para a floresta.

Durante o período de depressão que Francisco passou na mata, muita coisa aconteceu. Aprendeu a jejuar passando fome. Aprendeu a ajudar os outros passando nudez e frio. Aprendeu a se compadecer dos humilhados sofrendo grande humilhação. Chesterton diz que foi como cavar um buraco até o centro da terra para depois continuar cavando e cavando até sair em outro lugar. Deixou de ser Francisco o Fraco ou mesmo Francisco o Ladrão para ser São Francisco de Assis, uma das personalidades mais interessantes da história da humanidade.

Francisco enfrentou sua depressão para se tornar alguém diferente e melhor. Iniciou a Ordem dos Franciscanos com apenas 12 pessoas. Propôs ao Vaticano um novo tipo de monge: os frades, que seriam monges fora do claustro, entre o povo. Ensinou-nos a amar a natureza como parte de nós mesmos, não como um panteísmo, mas como realmente é, com as dores e alegrias, sabendo que temos influência sobre ela e ela sobre nós.

Tenho visto a Igreja tratar a depressão hoje de maneira muito secular ou muito fanática. Querem retirar o depressivo de seu "buraco" pela mesma abertura de entrada, sem considerar que existem outras possibilidades, sem considerar que a caverna pode ter outras saídas. Outros dizem que depressão é fruto de pecado ou obra do diabo. Até pode ser, mas tenho outras propostas.

Talvez não seja um buraco ou uma caverna. Talvez seja um casulo. Um casulo de onde o depressivo pode sair melhor do que no início do processo. Entra larva e sai borboleta. Entra pecador cheio de culpas e sai um santo capaz de fazer coisas novas que somente a reflexão durante o período de trevas existenciais pode criar. Para forjar o ferro, é necessário o fogo. Para forjar um santo, Deus pode utilizar-se do método que bem lhe convier.

Grandes personagens bíblicos ou da história da Igreja passaram por depressão ou períodos de vazio existencial. Moisés, com a melhor educação que o mundo poderia lhe dar, cuidando das ovelhas do sogro no deserto. Elias pedindo para Deus tirar-lhe a vida. Davi com uma tropa de mendigos enfiado em uma caverna e com medo de morrer. Martin Luther King pensando em desistir após incendiarem sua casa. John Bunyan escrevendo O Peregrino durante longos anos na cadeia. Todos iniciaram a jornada de uma maneira, mas saíram de seu "túnel" diferentes, melhores do que entraram.

Encarar a depressão como uma jornada e não como um buraco pelo qual precisamos sair de ré, como muitos querem, é uma ótima possibilidade. O depressivo passa a ver as coisas de maneira diferente. A depressão também afeta os santos e talvez o depressivo seja um santo em construção. Nunca subestime isto.

Comentários