O Deus que Cura



Aí Moisés levou o povo de Israel do mar Vermelho para o deserto de Sur. Eles caminharam três dias no deserto e não acharam água. Então chegaram a um lugar chamado Mara, porém não puderam beber a água dali porque era amarga. Por isso aquele lugar era chamado de Mara. O povo reclamou com Moisés e perguntou:
— O que vamos beber?
Então Moisés, em voz alta, pediu socorro a Deus, o Senhor, e o Senhor lhe mostrou um pedaço de madeira. Moisés jogou a madeira na água, e a água ficou boa de beber.
Foi nesse lugar que o Senhor Deus deu leis aos israelitas e os pôs à prova. Ele disse:
— Se vocês prestarem atenção no que eu digo, se fizerem o que é certo e se guardarem os meus mandamentos, eu não os castigarei com nenhuma das doenças que mandei contra os egípcios. Eu sou o Senhor, que cura vocês. (Êxodo 15.22-26)
Foi um misto de sensações. Quatrocentos anos como escravos. Depois um livramento cinematográfico, com dez pragas, abertura do Mar Vermelho e muita festa e dança do outro lado. Mas a vida segue. Tomaram caminho novamente, desta vez pelo deserto de Sur, três dias de caminhada sem encontrar água. Homens e mulheres, velhos e crianças, carregando suas mudanças pelo solo arenoso do oriente médio. Era muita sede e desesperança.

Estar no Egito por 400 anos, mesmo sob escravidão, não pareceu tão mau a partir deste ponto de vista. Havia água. Havia comida. Havia pavimento sob os pés e teto sobre a cabeça. Realmente, essa tal liberdade não era tão boa assim. Sair da zona de conforto doía mais do que podiam imaginar. A escravidão tem dessas coisas. O pássaro engaiolado tem dificuldade de voltar à natureza. Acostumou-se à prisão. Seguir com a correnteza é mais fácil.

Mesmo depois do agir de Deus, da contemplação de tudo que Ele podia fazer, da coluna de fogo e da nuvem, do mar se abrindo... Sei lá. O deserto era muito difícil. Andar no deserto é uma caminhada de fé. A direção nem sempre parece correta, porque às vezes o sofrimento vai aumentando. Será que Deus é Deus de sofrimento? Mas, como Chesterton dizia, só um peixe vivo nada contra a correnteza. A liberdade que eles queriam, o direito de ter sua própria terra, de formar sua família como bem entendesse, sem Faraó matando e batendo e roubando... Era tudo tão bom. Mas tudo envolvia uma responsabilidade que parecia grande demais.

Israel percebeu que tentar acertar dá trabalho. O apóstolo Paulo chama isso de "culto racional". Culto racional significa tomar decisões racionais, em detrimento das emocionais. Ou seja, não é necessário que o pregador me faça chorar para que eu me arrependa e resolva mudar de caminho.

Israel percebeu que é necessário atravessar desertos na vida. Muitos destes desertos são éticos. Outros são existenciais. O sentimento de abandono bate forte. Somos uma exceção na paisagem morta e inerte.

Israel percebeu que assumir certos riscos é necessário. No caso do povo de Israel, assumiram o risco de perder a vida, sem água, no meio de um deserto desconhecido.

Ao longe, perceberam uma coisa que destoava da paisagem. Um ponto verde. Mato. Coqueiros. Árvores. Um amontoado de vida no horizonte de morte. Acharam água. Foi pior do que se não achassem nada. As águas não se podiam beber. Sabe o quanto uma água precisa ser ruim para uma pessoa não querer bebê-la após três dias de sede? Era assim. Era Mara. Era amargura.

Por vezes, em nossos desertos, temos o desejo de desistir. O medo vai crescendo dentro de nós. A tristeza assola nosso coração. A alma vai sendo tomada por amargura. Vários servos de Deus já passaram por um período assim. Elias e Davi em suas cavernas. Jesus no Getsêmani. Paulo e seu espinho na carne. Choramos de dor, medo, tristeza, amargura ou quem sabe tudo junto e misturado. É o abandono.

Enquanto Israel clama a Moisés, Moisés clama ao Senhor. E o Senhor, mais uma vez, providencia uma saída nada usual: jogar um toco de madeira na água. Moisés já viu o bastante de Deus para saber que vai dar certo. Ele obedece. E a água se torna doce. Estavam salvos.

Obedecer a Deus é difícil porque Ele toma caminhos que não entendemos. Nos resta obedecer. E também crer que Jesus é o Senhor que nos Cura (Jeová Rafá). Isto não quer dizer que o deserto acabou. Não quer dizer que o sol vai ficar fresco sobre nossa cabeça e que o caminho vai se tornar plano. O deserto continua.

Nós continuamos caminhando. E contando com um milagre de cada vez.

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